As estatísticas mais recentes do Instituto Nacional de Comunicações de Moçambique (INCM) mostram a dimensão do desafio: em 2024 foram registados mais de 500 mil casos de fraude digital no país, um número que alerta para a necessidade de reforçar os mecanismos de prevenção e educação financeira.
Falando à margem da Conferencia Nacional de Consciencialização sobre fraude promovidas pelo UBA (United Bank for Africa), Joaquim Gaspar, Director Jurídico e Secretariado do banco, destacou que o fenómeno “não é exclusivo de Moçambique nem do UBA; é um evento global”. Segundo explicou, vários países já assinalam anualmente uma Semana Global de Consciencialização sobre Fraude, prática que o UBA vem adoptando nos seus mercados internacionais.
“Em Moçambique começámos no ano passado, com uma cerimónia interna em Novembro de 2024. Este ano expandimos o alcance e trouxemos mais parceiros, incluindo a Procuradoria-Geral da República e a SIMO, que lida com cartões e banca digital”, referiu Gaspar.
Segundo o gestor, o objectivo central é claro: educar, informar e prevenir, sobretudo porque os principais alvos de fraude continuam a ser pessoas com baixa literacia financeira.
Gaspar sublinha que esta vulnerabilidade explica por que muitos cidadãos ainda caem em esquemas de phishing, acedem a links duvidosos ou aceitam ajuda de estranhos nas caixas automáticas (ATMs). A proliferação de carteiras móveis, como M-Pesa, M-Kesh e e-Mola, agora reguladas pelo Banco de Moçambique, trouxe benefícios para o sistema financeiro, mas também um aumento das tentações para defraudadores.
“A mensagem do UBA é sermos vigilantes. Os defraudadores estudam todos os dias novos mecanismos, e nós devemos estar ainda mais atentos”, apelou.
Questionado sobre a actuação do Governo no combate ao crime digital, Gaspar reconhece avanços importantes:
“O Governo está a fazer o seu papel. Antes falávamos de fraudes com cheques; hoje falamos de fraude digital. Há acompanhamento através do INCM, do INTIC e da Procuradoria-Geral da República, que já tem um gabinete especializado em cibercrime.”
Contudo, sublinha que o combate à fraude depende de respostas rápidas, um ponto onde ainda há espaço para melhorias.
Gaspar defendeu a criação de uma plataforma digital integrada, capaz de ligar bancos e instituições do Estado para acelerar investigações.
“Hoje, a Procuradoria precisa de emitir ofícios e os bancos têm dias para responder. Com uma plataforma comum, o banco poderia fazer um ‘scan’ automático e a informação cair imediatamente no sistema. Isso seria mais eficaz.”
O representante do UBA considera fundamental reforçar a cooperação entre o Estado, os bancos comerciais e o sector privado. Destacou ainda o papel da Associação Moçambicana de Bancos (AMB) como interlocutora privilegiada na criação de soluções tecnológicas e operacionais.
Gaspar lembra que a confiança do cliente é o maior activo de qualquer instituição financeira:
“A melhor publicidade é a de um cliente satisfeito. Quando protegemos um cliente, protegemos também a reputação do banco. Mas, quando o cliente sofre fraude ou ataques cibernéticos, a imagem da instituição fica afectada.”
Por isso, o compromisso do UBA é continuar a investir em sensibilização, segurança e literacia financeira, sempre com o foco na protecção do consumidor moçambicano.