Infraestrutura Resiliente, Capital Humano e Activos Verdes

Infraestrutura Resiliente, Capital Humano e Activos Verdes
Suas Excelências, Ministros, Governadores dos Bancos Centrais, ilustres representantes do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, distintos convidados, Senhoras e Senhores,
É, de facto, uma grande honra estar convosco neste momento. Este encontro ocorre num momento particularmente oportuno, à medida que unimos esforços para amplificar a voz do continente africano e traçar um caminho de desenvolvimento que reflita as nossas necessidades e aspirações singulares.
Vivemos num mundo caracterizado por elevada volatilidade e complexidade. Um mundo onde a ordem internacional baseada em regras tem sido desafiada e onde se impõe reafirmarmos o nosso compromisso com a ideia de uma comunidade global coesa.
Contudo, enquanto africano, sinto-me na obrigação de ser franco: esta comunidade global nem sempre serviu os interesses de África, nem assegurou que a sua voz fosse ouvida, tampouco concretizou resultados significativos para o nosso continente.
A voz de África não só deve ser ouvida — tem de ser ouvida.
África dispõe de soluções concretas para muitos dos desafios globais. A nossa juventude representa a resposta à crise demográfica mundial; os nossos recursos minerais alimentam as transformações tecnológicas em curso; e as nossas terras têm o potencial de alimentar o mundo.
Todavia, estas soluções africanas — estas oportunidades africanas — devem ser conduzidas nos termos de África, trazer benefícios concretos aos africanos e promover a criação de valor genuíno no continente. Tudo isso deve alicerçar-se em parcerias verdadeiras, baseadas na igualdade e no respeito mútuo.
Importa igualmente sermos realistas. Os governos africanos têm de fazer melhor. Se pretendemos garantir oportunidades reais à próxima geração — e se almejamos que a nossa voz seja verdadeiramente considerada na comunidade internacional —, África precisa assumir um papel mais assertivo.
O tema deste ano — “Infraestruturas Resilientes, Capital Humano e Ativos Verdes” — reflete com propriedade aquilo que devem ser as nossas prioridades comuns para que África prospere.
Este tema sintetiza a essência do que devemos priorizar para que África se afirme plenamente.
O Défice de Infraestruturas em África
Comecemos pelas infraestruturas. Em todo o continente, enfrentamos um défice profundo e persistente nesse domínio. Seja ao nível das estradas, dos portos, da eletricidade ou da conectividade digital, continuamos aquém das exigências do desenvolvimento moderno. Não será possível alcançar prosperidade duradoura sem uma base sólida de infraestruturas.
Para colmatar este défice, impõem-se três ações prioritárias:
- • Reforçar a capacidade fiscal dos nossos Estados;
- • Promover maior eficiência na gestão pública;
- • Mobilizar financiamento inovador, com destaque para o papel do setor privado na liderança e cofinanciamento das infraestruturas.
Energia: Pilar do Futuro de África
O acesso à energia permanece como o principal facilitador — ou obstáculo — do progresso africano.
Cerca de 70% da população do continente continua sem acesso à eletricidade. O meu país, a Nigéria, por exemplo, gera menos de 7.000 megawatts para uma população superior a 200 milhões de pessoas.
Se pretendemos industrializar, gerar empregos e integrar-nos de forma significativa na revolução global impulsionada pela inteligência artificial, é imperativo investir de forma robusta no setor energético — desde fontes renováveis até soluções limpas com base em gás.
Imaginem o que poderia tornar-se a economia nigeriana com 100.000 megawatts de energia fiável e acessível. Esse é o nível de transformação de que precisamos — e esta realidade é extensiva a grande parte do continente africano.
O Papel do Sector Privado
Através dos investimentos realizados pela Transcorp e pela Heirs Energies, temos vindo a contribuir para a resolução desse desafio — gerando energia, exportando-a por meio da Rede Elétrica da África Ocidental (West African Power Pool), e utilizando o gás proveniente das nossas operações petrolíferas para alimentar as nossas centrais. Trata-se da materialização do Africapitalismo: capital privado a enfrentar desafios públicos.
Africapitalismo é a convicção de que o setor privado africano deve assumir a liderança no processo de desenvolvimento económico. Trata-se de investimentos de longo prazo em setores estratégicos, que proporcionem retorno financeiro, mas também impacto social.
Contudo, o êxito só será possível mediante uma colaboração estreita.
Para termos sucesso, precisamos de parcerias sólidas. Os governos devem garantir um ambiente propício. O setor privado deve mobilizar capital e inovação. E os nossos parceiros de desenvolvimento devem compreender as realidades africanas — incluindo o reconhecimento do gás natural como uma opção válida na transição energética rumo à sustentabilidade.
Juventude: O Maior Recurso de África
O recurso mais precioso de África são as suas pessoas — sobretudo os seus jovens. Somos o continente mais jovem do mundo, com mais de 60% da população com menos de 35 anos. Este facto representa, simultaneamente, o nosso maior ativo ou, se negligenciado, o nosso maior risco.
Se forem capacitados, os jovens africanos poderão transformar o continente. Se forem ignorados, poderão tornar-se foco de instabilidade.
Na Fundação Tony Elumelu, temos:
- • Empoderado mais de 24.000 jovens empreendedores em todos os 54 países africanos;
- • Concedido a cada um capital semente não reembolsável de USD 5.000;
- • Formado 1,5 milhão de jovens;
- • Catalisado 1,2 milhão de empregos.
Estes jovens estão a criar empresas, gerar empregos e transformar comunidades.
Apelo à Acção
Permitam-me encerrar com três mensagens essenciais:
- • O desenvolvimento de África é da nossa exclusiva responsabilidade. Ninguém o fará por nós. O futuro do continente está nas nossas mãos. Cabe-nos liderar o seu processo de construção.
- • A energia é um elemento central. Nenhuma revolução industrial é possível sem eletricidade. Devemos fazer da energia uma prioridade absoluta. Sem energia, não há desenvolvimento.
- • Devemos investir na nossa juventude. Eles não representam apenas o futuro de África — são o seu presente.
Juntos, através da cooperação entre os setores público e privado, e em estreita parceria com instituições como o FMI e o Banco Mundial, podemos construir uma África resiliente, inclusiva e repleta de oportunidades.
Congratulo-me com o foco crescente das instituições globais no continente africano. Como membro do Conselho Consultivo do FMI sobre Empreendedorismo e Crescimento, regozijo-me com a ênfase dada à criação de empregos como vetor de crescimento sustentável. Aplaudo igualmente a iniciativa Mission 300 de Ajay Banga, no Banco Mundial — uma meta ambiciosa que visa conectar 300 milhões de africanos à energia elétrica.
África está pronta. Aproveitemos este momento histórico para construir o continente próspero e empoderado que os nossos povos merecem.